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August 13, 2014

Santa Catarina registra pedidos de R$ 4,1 bilhões

A indústria naval de Santa Catarina vive uma fase de bonança. Entre 2013 e 2014, a Petrobras contratou o fretamento e a operação de 24 embarcações de apoio marítimo que serão construídas por três estaleiros até 2018, informa a assessoria de comunicação da empresa. O investimento de US$ 1,8 bilhão (R$ 4,1 bilhões) deve gerar até 4.500 postos de trabalho diretos e mais de 13,5 mil indiretos nos municípios portuários de Itajaí e Navegantes, que fornecem 80% das embarcações de apoio à exploração de petróleo e gás no Brasil.

Treze embarcações estão sendo construídas pela Starnav Serviços Marítimos no estaleiro Detroit, de origem chilena. Elas são do tipo PSV 4500 (Platform Supply Vessel), para transporte de carga. Quatro delas estão previstas para 2016 e nove para 2017. A Bram Offshore fará sete navios até 2018 no estaleiro Navship, de propriedade do grupo americano Edison Chouest Offshore. Três são PSV 4.500 e quatro, do tipo AHTS 21.000 (Anchor Handling Tug Supply), que manobra âncoras. Até 2018, quatro AHTS 18.000 serão construídas pela Companhia Brasileira de Offshore no estaleiro Oceana.

Grande diferencial do polo catarinense é o valor agregado aos navios pela tecnologia embarcada

Localizadas a 100 km da capital catarinense, as cidades de Itajaí e Navegantes oferecem infraestrutura portuária e aeroviária que facilita a extração de petróleo na região sul da Bacia de Santos. A Petrobras produz 74 mil barris diários de petróleo de alto valor comercial no campo de Baúna, a 210 km da costa, no pós-sal, em uma lâmina d'água de 250 metros. Para dar apoio ao navio-plataforma e às atividades exploratórias nos três estados do Sul, a empresa possui um edifício-sede em Itajaí.

Entre 2009 e 2011 os dois municípios tiveram crescimento de mais de 50% em seus Produtos Internos Brutos (PIB), conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2011, o PIB de Itajaí chegou a R$ 18,6 bilhões, encostando na maior economia de Santa Catarina, Joinville. No ano passado, a cidade ganhou 3 mil novas empresas - são hoje cerca de 19 mil, abrangendo desde serviços portuários a pesca industrial, comércio atacadista de alimentos, logística, construção e outros.

"Temos uma localização privilegiada para negócios", diz o secretário de Desenvolvimento Econômico Onézio Gonçalves Filho: "Cinco municípios incluídos entre os cem maiores PIBs do Brasil estão num raio de cem quilômetros daqui".

O Complexo Portuário de Itajaí, centro nervoso da economia local, é o segundo do Brasil em movimentação de contêineres. Outro destaque é a indústria pesqueira. Com uma frota de 700 embarcações, ela faz de Santa Catarina o maior produtor de pescado do país. A atividade é reforçada pela tradição da carpintaria naval, que movimenta estaleiros artesanais em Navegantes.

"As consultorias internacionais indicam Itajaí como a melhor opção brasileira hoje para quem quer se instalar na área de petróleo e gás", diz o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Naval de Itajaí e Navegantes (Sinconavin) e diretor da Federação das Indústrias (Fiesc), Carlos Frederico da Cunha Teixeira. "Muitas empresas estão fazendo prospecções para se instalar em Santa Catarina, atraídas pelo desempenho econômico do estado e pelas boas condições aqui existentes". Um estudo da Fiesc indica que, no acumulado 2014/2013, as vendas da indústria catarinense cresceram 2,1%, enquanto a média brasileira foi de 0,3%. O índice de emprego no Estado cresceu 3,1% de janeiro a maio, contra 1,3% na média nacional.

Itajaí e Navegantes têm investido no apoio marítimo pelas circunstâncias geográficas: a pouca largura do rio Itajaí-açu só permite construções de até 180 metros de comprimento. O grande diferencial do polo catarinense é o valor agregado aos navios pela tecnologia embarcada. Um petroleiro consome cinco vezes mais aço que uma embarcação de apoio e custa apenas duas vezes mais, compara Teixeira: "Nossos estaleiros não podem ser grandes, mas têm de ser bons - e são bons". Embora o ritmo de investimentos tenha diminuído, a produção continua aquecida. O maior entrave é a escassez de mão de obra.

O governo tem enfrentado o problema por meio do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), criado para viabilizar a qualificação profissional e aumentar a nacionalização de conteúdo no setor. Desde 2003 o programa qualificou 97 mil trabalhadores no setor com cursos gratuitos abrangendo 185 categorias profissionais em 17 estados, informa a assessoria de comunicação da Petrobras.

No processo seletivo realizado em 2012, foram oferecidos em Itajaí cursos de caldeireiro, soldador de estrutura e de tubulação, montador, mecânico montador, encanador industrial, eletricista montador e eletricista de força e controle. Em 2013, o programa passou por algumas mudanças. As empresas passaram a se responsabilizar pela seleção dos alunos e por parte dos custos do programa.

Fonte: Valor Econômico\Dauro Veras | Para o Valor, de Florianópolis